
Alto, baixo ou de estatura mediana? A arte de vestir o novo papa

As vestimentas do papa costumam sair das mãos experientes dos alfaiates Gammarelli de Roma, mas, desta vez, o Vaticano vai usar batinas de conclaves anteriores.
Seria esse um reflexo da preocupação de Francisco com o meio ambiente? "Imagino que sim", disse Lorenzo Gammarelli, de 52 anos, que administra a loja juntamente com três primos.
Após o funeral de Francisco, será convocada a eleição do seu sucessor, da qual participarão cardeais de todo o mundo. A esta altura, os Gammarelli já estariam trabalhando em um novo conjunto de vestimentas para o escolhido.
Várias gerações desses alfaiates prepararam três batinas para que os novos pontífices pudessem se apresentar na sacada da Basílica de São Pedro já vestidos de branco. Nos minutos seguintes à sua eleição, o novo papa veste rapidamente a peça que mais lhe cair bem, para fazer sua primeira aparição após o anúncio "Habemus papam".
"Vestimos todos os papas desde o começo do século XX, pelo menos", disse Gammarelli à AFP. Mas, nesta ocasião, "o Vaticano nos disse que estava cuidando disso", informou.
O alfaiate acredita que as vestimentas do novo papa serão as dos conclaves anteriores: "Fizemos três batinas em cada ocasião, e eles usaram apenas uma".
Esta é a primeira vez que a loja fica sem pedido. Francisco desprezava os excessos e desperdícios, por isso Gammarelli não descarta que se trate de uma homenagem ao pontífice.
- Tamanhos dos candidatos -
Retratos dos papas enfeitam as paredes da loja, que fica a poucos passos do turístico Panteão de Roma. Suas prateleiras estão repletas de tecidos coloridos, e as vitrines exibem peças desenhadas para todo tipo de traje da Igreja Católica, de papas a bispos, padres e seminaristas.
Os novos papas usam a batina com uma capa curta, uma faixa de seda branca e um solidéu branco. Normalmente, leva-se três dias e meio para cortar o tecido de uma batina completa, prepará-lo e costurá-lo à mão.
Gammarelli acredita que o Vaticano deva ter alguém para ajustar a batina caso seja necessário, antes da apresentação do novo papa.
- Precedente -
Quando o italiano Angelo Giuseppe Roncalli foi eleito papa João XXIII, em 1958, ele era considerado "um dos possíveis candidatos" a ser contemplado no conclave.
"Havíamos costurado uma das três batinas exatamente do seu tamanho", lembra Gammarelli. "No calor do momento, vestiram nele outra, que não lhe caía bem, e tiveram que cortar as costas e prender a peça com alfinetes, para que ele pudesse aparecer na sacada".
O Vaticano telefonou para o avô de Gammarelli, que administrava a loja. "Mas o que aconteceu? Não é possível", respondeu o alfaiate, que foi até o Vaticano e percebeu que haviam pego a caixa errada.
"Desde então, colocamos uma etiqueta com o nome do candidato mais provável", contou Lorenzo, que admitiu estar "um pouco decepcionado" por não vestir o sucessor de Francisco.
"Veremos no próximo", disse o alfaiate, que assumiu com os primos o controle da loja em 2016. A vitrine que costumava exibir as três batinas antes de elas serem enviadas para o Vaticano mostra apenas um único solidéu, que Francisco encomendou, mas nunca usou.
N.Carrasco--HdM